Edição #5

O amigo mora ao lado

Reforma da Ponte
Paraguaios consomem e investem em Foz do Iguaçu, fortalecendo o intercâmbio comercial entre as duas comunidades

O cenário atual é desafiador. Enquanto Foz do Iguaçu, Ciudad del Este e Puerto Iguazú apostam no turismo para a injeção de dinheiro de fora em suas economias, os moradores experimentam uma nova fase de intercâmbio sem fronteiras. Parece que se redescobriram, tal como na letra de Gonzaguinha. É um redescobrir o gosto e o sabor da festa, dar um novo significado para “o suor da vida no calor de irmãos”.

Essa relação ocorre de forma intensa entre as cidades brasileira e paraguaia. Atualmente milhares de pessoas têm cruzado a Ponte da Amizade para gastar aqui, em setores como comércio, alimentação, lazer e saúde. São empresários e trabalhadores paraguaios que ganham seu dinheiro no país vizinho e investem e consomem na economia iguaçuense. A circulação do dinheiro inclui os próprios brasileiros, além de outros estrangeiros como árabes e asiáticos.

O setor de alimentação, por exemplo, há anos é impulsionado pelos paraguaios. Nos supermercados perto da Ponte da Amizade, os moradores do Paraguai representam, em média, de 5% a 10% dos clientes. Tanto que alguns estabelecimentos mantêm em suas prateleiras produtos especialmente voltados para os consumidores paraguaios. Esse volume pode melhorar dependendo das variações cambiais que afetam o poder de compra e venda entre o real, dólar, guarani e peso.

Movimentada – A circulação da moeda tem origem no movimento sobre a pista. Somente no sentido Brasil-Paraguai passam pela Ponte da Amizade 22,5 mil veículos por dia, entre automóveis, motos, táxis, vans, ônibus e caminhões. No sentido inverso, o número é bem semelhante. O monitoramento revela ainda um fluxo diário de 7,4 mil pedestres no sentido Foz-CDE e três mil no sentido contrário.

Os dados são da pesquisa desenvolvida pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas em junho do ano passado. O estudo anual é feito desde 2011 com o objetivo de fornecer dados confiáveis acerca do fluxo de veículos e pessoas, sob a coordenação do professor doutorando Fábio Hauagge do Prado e colaboração de docentes e discentes do Grupo UDC, com apoio de órgãos de segurança e aduaneiros.

Shopping
Superintendente Cataratas JL Shopping, Lindenor Cavalheiro (1)
A força dos consumidores paraguaios pode ser analisada no movimento do Cataratas JL Shopping. Das 400 mil visitas mensais recebidas pelo empreendimento, 80 mil são de paraguaios – ou seja, 20% do total. O superintendente do shopping, Lindenor Cavalheiro, revela que o cliente vindo do Paraguai é o segundo maior da casa, atrás apenas dos iguaçuenses. Basta ver as placas dos veículos no estacionamento para perceber a presença bem-vinda.

A procura maior é por alimentação e lazer (cinema e jogos), bem como por bens duráveis. “É um público extremamente importante para nós, tanto que adaptamos toda nossa comunicação visual de orientação interna para três idiomas (português, espanhol e inglês)”, conta Cavalheiro. Outro medidor da clientela fiel ocorre em feriados paraguaios. “Nesses dias é certo que nosso movimento aumenta bastante”, completa.

Imóveis
Aerea Foz_Kiko Sierich (15)
O mercado imobiliário vive o bom momento de injeção de “dinheiro estrangeiro” em condomínios fechados e edifícios de alto padrão. O inverso também ocorre. Dezenas de brasileiros venderam seus imóveis em Foz para ir morar no Paraná Country Club, em Hernandárias, entre outros novos condomínios fechados. “A facilidade de acesso pela Ponte da Amizade é muito importante”, explica Jilson José Pereira, vice-presidente do Secovi Paraná – Regional Cataratas.

Mas não é só o brasileiro com negócio e emprego no Paraguai que investe aqui. O paraguaio também aposta no mercado imobiliário iguaçuense, inclusive na construção de prédios para fins comerciais e residenciais. “A importância da ligação da fronteira é fantástica, principalmente para as relações comerciais”, destaca o representante do Sindicato da Habitação e Condomínios.

Único
Natalia Ramírez Chan (3)Para a empresária paraguaia Natalia Ramírez Chan, os moradores da região têm um convívio singular, impulsionado pela Ponte da Amizade, argumenta. Em sua opinião, viver em Ciudad del Este e em Foz é como morar em só um lugar. “Nós podemos trabalhar durante o dia no comércio paraguaio, cruzamos a ponte e estamos num restaurante, num cinema ou supermercado brasileiro. Por outro lado, os moradores de Foz do Iguaçu trabalham, passeiam, tocam seus negócios no Paraguai”, afirma.

Natalia lembra que quando algo está difícil no Brasil, no Paraguai está mais fácil. E vice-versa. As duas economias almejam sempre o equilíbrio. “Nós não sentimos a desaceleração econômica dos nossos países tão facilmente como ocorre em outras cidades do mundo. Aqui uma cidade mantém a outra de alguma maneira, fazendo que a região funcione. É algo maravilhoso, por isso há tanta gente aqui de outros países”, conclui.

 

Vai o bicho homem fruto da semente
Renascer da própria força, própria luz e fé
Entender que tudo é nosso, sempre esteve em nós
Somos a semente, ato, mente e voz
Redescobrir, Gonzaguinha

 

ESPECIAL 50 ANOS PONTE DA AMIZADE

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O amigo mora ao lado

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