Edição #5

Ceasa é símbolo das relações comerciais

Mariana Nuñez e as filhas

Mariana Nuñez e as filhas Luz Viñales e Liz Viñales

A Ceasa é um reduto antigo de paraguaios que sempre mexem com a gente. Diariamente, centenas de pequenos comerciantes cruzam a fronteira para comprar hortifrutigranjeiros dos brasileiros e revender principalmente em Ciudad del Este, Puerto Franco, Hernandárias e Mingua Guazú. Os produtos, que chegavam a encher até 30 carretas por dia, hoje são transportados em pequenos veículos – boa parte em táxis e vans fretados só para essas viagens.

Há 30 anos no negócio, a comerciante Mariana Nuñez, 50 anos, sempre cruza a fronteira de madrugada, por volta das cinco horas, para adquirir bons produtos brasileiros, como laranja, tomate, feijão e repolho. “Criei meus sete filhos com essa fonte de renda, com muito orgulho. O dinheiro pra educação, luz, telefone e transporte vem tudo daqui”, diz a senhora paraguaia, ao lado das filhas Luz Viñales, 19, e Liz Viñales, 23.

Gerente da Ceasa em Foz há 26 anos, Valdinei dos Santos conhece essas histórias de vida a fundo. Segundo ele, os paraguaios já chegaram a representar 90% dos compradores da central; hoje representam 30% da clientela. A unidade mantém 55 empresas atuantes em 370 boxes, que juntas comercializam seis mil toneladas por mês, algo como 230 toneladas por dia.

Para Santos, o fluxo diminuiu por causa da concorrência de revendedores informais da Vila Portes, do crescimento da produção interna no mercado paraguaio e dos entraves do Mercosul (taxas, certificados e restrições). “Independente de toda essa questão, o paraguaio sempre representou uma opção de mercado para os comerciantes”, avalia o gerente da Ceasa.

As transformações

Antes da Ponte da Amizade, os moradores da região mantinham uma pacata relação socioeconômica. As viagens de um lado para o outro do Rio Paraná eram feitas de barco, enquanto as transações comerciais passavam por um acanhado porto oficial. O forte da economia era a madeira, que descia pelos Rios Paraná e Iguaçu para ganhar o continente.

Quando o Brasil e o Paraguai assinaram o acordo para a construção da obra, em 1956, Foz do Iguaçu tinha cerca de 15 mil habitantes. A nossa cidade irmã na época era Puerto Franco, também com um pequeno povoado. Somente no ano seguinte, o país vizinho fundou Puerto Flor de Lis, que em pouco tempo teve seu nome alterado para Puerto Presidente Stroessner, em homenagem ao ex-presidente paraguaio.

Com a queda do ditador, em 1989, os nossos vizinhos rebatizaram novamente a sua casa. O nome mudou para Ciudad del Este, porém a essa altura as transformações já estavam bem consolidadas. Mais do que ser rota de passagem da produção paraguaia para o Porto de Paranaguá, os hermanos conquistaram o posto de terceira maior zona franca de comércio do mundo. Essa posição, entretanto, não veio da noite para o dia.

Durante muito tempo, a ponte cumpriu uma função mais geopolítica e atendia a um pequeno comércio fronteiriço. As relações se intensificariam com a construção da Itaipu Binacional. Em seguida, viriam os ciclos de exportação (auge da Vila Portes e Jardim Jupira), o comprismo (evidenciado nas figuras do muambeiro, do laranja e dos comboios), além da globalização e abertura de mercados. Hoje, as fichas estão voltadas para o turismo de compras e a integração plena dos povos.

 

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