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“Foz vai perder o bonde da história se demorar para agir”

Logistica 4

Quais são os benefícios do pedágio para a sociedade além da manutenção da estrada?

Desde 1992 no setor de transportes, Edmilson Souza dos Santos, 48, é sócio-proprietário da Transli – Transportadora Liberdade, uma das principais do segmento na cidade. Ao longo destes 23 anos na atividade, tem clareza sobre a vocação turística da fronteira e dos entraves estruturais. “O problema é político. Foz do Iguaçu vai perder o bonde da história se demorar para agir”, afirma o empresário.

Sua análise está fundamentada no pouco aproveitamento das oportunidades existentes na região. Na opinião dele, o município pode ser considerado “Portal do Mercosul” por conta da sua posição geográfica, da fronteira com a Argentina e o Paraguai, e da mobilidade única para escoamento e importação de mercadorias. “Ferrovia e hidrovia são praticamente inexploradas. O próprio modal rodoviário precisa melhorar.”

Por outro lado, as adversidades também são grandes, a começar pelo pedágio, um serviço com um valor “nocivo” à sociedade e ao próprio estado, que é responsável por boa parte do custo da cadeia produtiva. O setor de transportes não é contra o pedágio, e sim contra a tarifa abusiva atual.

Edmilson Souza dos Santos

Edmilson Souza dos Santos: o problema é político

Santos dá o exemplo do transporte de cimento de Curitiba para Ciudad del Este, cujo custo de óleo diesel gira em torno de R$ 780, enquanto o valor do pedágio fica em R$ 478. “Isso é um absurdo, não existe em lugar nenhum do mundo. O interior do Paraná hoje está fora do Mercosul por conta do pedágio”, critica.

Quais são os benefícios do pedágio para a sociedade além da manutenção da estrada? Estamos longe do ideal, argumenta. “A duplicação da BR-277 precisa ser concluída imediatamente. Precisamos definir a responsabilidade do estado e das concessionárias quanto à segurança, para evitar saques de cargas tombadas, e quanto às áreas de descanso de motoristas. Tudo isso sem contar que as concessionárias estão cobrando pelo eixo erguido no Sem Parar”, denuncia.

Segundo Santos, o preço da tarifa já tem prejudicado a competitividade da cadeia produtiva, como é possível verificar pelas medidas adotadas pelo Paraguai para driblar a cobrança (ao menos parte dela). Uma delas é a criação de portos para o escoamento hidroviário de cargas de commodities, que outrora circulavam pela BR-277 com destino a Paranaguá e portos de Santa Catarina, gerando emprego e renda ao longo da rodovia.

“O Paraguai está fazendo sua parte na questão política em relação aos incentivos às indústrias se instalarem no país vizinho, e Foz do Iguaçu não tem feito a contento sua parte na estruturação para o recebimento deste fluxo de cargas, que ano a ano vem crescendo na região”, afirma.

Ainda conforme o empresário, “ao contrário do que as autoridades parecem pensar, o Paraguai tem sim alternativas para o abastecimento destas indústrias, entre elas as aduanas de Santa Helena, via Puerto Indio (PY), Guaíra e Mundo Novo, via Salto del Guairá (PY), além ainda de Ponta Porã, via Pedro Juan Caballero”.

Dentro da vocação logística, Foz do Iguaçu precisa especializar-se na indústria de transformação em detrimento da indústria da produção. Eis um exemplo: hoje a azeitona in natura e a granel da Argentina é levada até Goiás e São Paulo para ser embalada e rotulada. Depois parte do produto volta para o mercado do Sul, mas a rotulagem e embalagem poderiam ser feitas aqui, barateando o alimento.

Santos conclui dizendo que o departamento paraguaio de Alto Paraná hoje registra expansão do parque industrial graças ao imposto único de apenas 1% sobre a indústria de transformação. Para ele, a tendência é as mercadorias serem escoadas por Foz, porém se a cidade não se preparar para recebê-las, pode ocorrer fuga de capital a outras fronteiras do Brasil com o Paraguai. “Hoje o país vizinho já tem alternativas de rota. Precisamos acelerar o nosso passo”, completa.

 “No final das contas, estoura no bolso do agricultor”, diz presidente da Lar

 

presidente da Cooperativa Agroindustrial Lar, Irineo Rodrigue

Presidente da Cooperativa  Lar, Irineo Rodrigues

Considerando que o alto valor das tarifas de pedágio no Paraná penaliza o setor produtivo paranaense e compromete a competitividade do agronegócio, o presidente da Cooperativa Agroindustrial Lar, Irineo Rodrigues, diz que o maior prejudicado é o produtor rural, “que receberá menos pela produção”, uma vez que o custo não poderá ser repassado ao mercado. “No final das contas, estoura no bolso do agricultor”, analisa.

Sediada em Medianeira, no extremo-oeste paranaense, a Lar fica cerca de 700 quilômetros distante do Porto de Paranaguá. Por isso é uma das cooperativas que mais sofrem o efeito do pedágio no transporte da produção. Rodrigues lembra que estudo da Ocepar demonstra que, por exemplo, o impacto dessa tarifa no custo de produção do milho é de 7,4%, no trajeto entre Cascavel e Paranaguá. O total desembolsado nas praças de pedágio pelo transporte nesse trecho equivale a 28 sacas do cereal.

“O pedágio é um sócio indesejado, pois, apesar de o maior trecho das estradas não ser duplicado, tem um custo absurdamente alto em relação a outros do país. Cobram alto e não entregam os serviços, que seriam a contrapartida”, afirma. Ele ilustra a situação ao citar o caso do calcário, que, da região de Curitiba até Medianeira, tem elevação de 30% no custo por causa do pedágio.   “Isso onera muito a produção primária, que tem lucratividade em torno de 5% ao ano”, acentua.

Renovação– Em hipótese alguma, os atuais contratos do pedágio devem ser prorrogados, na avaliação do presidente da Lar. “Temos de suportar até o final dos atuais contratos, exigindo o cumprimento das contrapartidas das empresas, e fazer novas concessões a partir daí, com custos menores e serviços melhores para os usuários”, diz Rodrigues.

 


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