Edição #13

As pedras no caminho da retomada da economia

Se colocar as contas públicas em ordem com a aprovação das reformas de limite de gastos públicos e previdência, o Brasil terá condições de recuperar o crescimento econômico de forma mais rápida e segura

jandir-acic

Jandir Ferrera de Lima é economista e professor da Unioeste

Uma parcela significativa dos economistas e das agências internacionais avalia como positiva a retomada da economia brasileira para 2017. Porém cabe lembrar que o “tombo” da economia forçou a retração do Produto Interno Bruto (PIB) em quase cinco anos.

Nesse cenário, muitas indústrias estão com as vendas bem abaixo da expectativa, foram forçadas a reduzir a atividade produtiva e estão pouco competitivas. A retomada das vendas fará com que as indústrias primeiro utilizem a estrutura produtiva já existente para, na sequência, avaliarem se vale a pena investir na ampliação dessa estrutura produtiva e na sua capacidade instalada. Por isso, acréscimos significativos no PIB só deverão ocorrer após 2018, demonstrando que a economia brasileira ainda levará mais cinco anos para se recompor na sua integridade.

Cabe lembrar também o peso do componente “expectativas” na retomada da economia. Em 2015, por exemplo, havia boas expectativas sobre a retomada da economia brasileira no segundo semestre de 2016. Porém a crise política e as incertezas quanto à política econômica fizeram com que muitas agências de risco e grupos empresariais revissem a possibilidade de crescimento econômico brasileiro ainda em 2016.

O resultado foi o rebaixamento das notas de crédito brasileiras no mercado internacional e a escassez de investimento estrangeiro no primeiro semestre de 2016. Isso demonstra o quanto a economia brasileira está carregada de incertezas e atrelada ao dinamismo da política nacional, principalmente no que diz respeito à intenção dos governos federal e estadual com o equilíbrio fiscal.

Atualmente, cerca de 50% do orçamento federal está destinado à rolagem dos títulos da dívida pública interna, e em torno de 22% estão comprometidos com gastos da previdência. Ou seja, mais e mais recursos são destinados à dívida pública e à previdência, e sobra pouco para investimentos em infraestrutura. Sem contar que a queda na arrecadação deteriora a capacidade de pagamento do governo federal, o que gera mais e mais incertezas na política econômica.

Outro elemento que também contribuiu para minar as expectativas da retomada da economia brasileira foi a tarifação promovida pelos governos estadual e federal nas contas de energia, combustíveis e água. O aumento das tarifas e impostos, junto com a desvalorização do real, estimulou a alta dos preços e da taxa de juros. Nesse sentido, as expectativas quanto ao realinhamento dos preços em patamares mais baixos ainda este ano já apontam para uma possível queda da taxa de juros nos próximos meses.

A perspectiva do mercado financeiro é que a taxa de juros feche em 13,25% em 2016 e em 11,25% em 2017. O que pode barrar essa tendência é a meta arrojada de inflação proposta pelo Banco Central, na ordem de 6,5% (teto da meta) em 2016 e 4,5% em 2017. O corte da taxa de juros deve ajudar na oferta de crédito ao consumidor e nas condições de investimento da economia. Esses fatores irão incentivar a recuperação econômica e a criação de novos postos de trabalho.

pedras-moedas
Segundo dados do Caged, entre junho de 2015 e junho de 2016, Curitiba perdeu 38 mil vagas de emprego, enquanto Londrina perdeu em torno de 5,6 mil; e Maringá, 5,6 mil postos de trabalho. No caso da Região Oeste, a crise chegou de uma forma mais branda do que nas grandes cidades. Isso se deve ao peso do agronegócio na economia regional. Enquanto muitas empresas restringiram sua produção, a desvalorização cambial melhorou a competitividade das agroindústrias da região e manteve o ritmo de crescimento da produção.

Alguns municípios, entretanto, não passaram imunes ao desemprego. Cascavel e seu entorno perderam 4,3 mil postos de trabalho; Toledo registrou 2,5 mil postos de trabalho a menos; e Foz do Iguaçu, 1,2 mil vagas. No caso de Foz, os ramos de atividade mais afetados foram a construção civil e o setor terciário.

Apesar da desvalorização cambial ter estimulado o fluxo de estrangeiros, o comércio internacional sentiu os efeitos da diminuição do turismo de compras na fronteira, em especial dos brasileiros. E o aumento na taxa de juros e as restrições ao crédito imobiliário arrefeceram o mercado de imóveis. Na contramão da crise, os municípios de Medianeira e Matelândia criaram juntos 1,1 mil postos de trabalho.

A retomada da economia do Oeste paranaense deverá ser mais rápida do que a das regiões metropolitanas, porém depende das respostas que o agronegócio dará frente às adversidades climáticas, de preços das commodities e dos gargalos regionais em infraestrutura.

Jandir Ferrera de Lima é economista e professor da Unioeste, campus Toledo

COMPARTILHAR: