Edição #16

A discreta recuperação do emprego no Brasil

Gilmar Mendes Lourenço

Todo cuidado é pouco quando a tarefa envolve previsões econômicas. Isso é especialmente verdadeiro no caso do Brasil depois do caos produzido pela nova matriz, uma incursão intervencionista e populista, aplicada entre outubro de 2008 e maio de 2016, que fragilizou financeiramente o Estado e mergulhou o aparelho produtivo na pior recessão desde a instauração da República. O ex-ministro da Fazenda do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), Pedro Malan, afirmou certa vez que, por aqui, “até o passado é incerto”.

O fenômeno é ilustrado pelos sinais do mercado de trabalho com carteira assinada, acompanhado mensalmente por meio de registros administrativos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. As apurações revelam geração líquida de -40,8 mil, +35,6 mil, -63,6 mil e +59,9 mil vagas formais em janeiro, fevereiro, março e abril de 2017, respectivamente.

Com isso, o contingente laboral contabilizou perda acumulada de apenas -933 postos no primeiro quadrimestre do ano e -969,9 mil em 12 meses encerrados em abril, o que permite apreender a formação de um cenário de discretos reparos dos estragos associados à catástrofe traduzida na contração líquida de 3,430 milhões de ocupações entre novembro de 2014 e dezembro de 2016.

Mesmo distante de enfeixar o “melhor dos mundos”, o filme deste começo de 2017 pode ser interpretado como o ensaio de reversão do panorama negativo que assola a base econômica brasileira desde abril de 2014, quando começou pelo setor industrial e se propagou, rapidamente, para os demais segmentos. Isso fez comprimir a massa de salários, especialmente com o vertiginoso aumento da desocupação e o declínio da renda derivada do trabalho, afetada inclusive pela aceleração da inflação.

A qualidade, porém, dos resultados da abertura de vagas, especificamente para o mês de abril do atual exercício, repousa na natureza generalizada do fluxo de criação de empregos. Das 24 atividades acompanhadas pelo Caged, somente os complexos da construção civil, metalmecânica, celulose, papel e gráfica e calçados, além de comércio atacadista e instituições de crédito, registraram retração.

A rota cadente daqueles segmentos reflete a ainda morosa restauração da confiança e o abalo nas condições de crédito, consequência da subida no endividamento das famílias e do maior rigor e seletividade dos bancos na concessão de financiamentos, por conta da impulsão da inadimplência das organizações empresariais e famílias.

Logo, a posição assumida pela curva do emprego registrado em abril de 2017 representa um dado alentador. Trata-se do princípio de constituição de um segundo ativo da orientação macroeconômica brasileira, executada desde maio de 2016, sendo o primeiro apoiado na contínua e consistente repressão da espiral de preços.

A consolidação e a perpetuação do ambiente virtuoso requerem erro zero na formulação e execução da estratégia de superação da recessão e retomada do ciclo de transações, abarcando o prosseguimento da audácia da autoridade monetária na redução dos juros, ao lado do avanço e alargamento da abrangência das reformas estruturais no Congresso Nacional.

Gilmar Mendes Lourenço, economista, consultor, professor da FAE Business School, ex-presidente do Ipardes.

 

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